Extratos da Obra de Paulo Freire Baseado no livro
Cartas a Cristina Reflexões sobre minha vida e minha práxis
Este texto tem por objetivo principal mostrar aos estudantes, entre os quais eu estou incluído, a importância e a necessidade da leitura para uma boa escrita. Na introdução do livro Cartas a Cristina, o educador Paulo Freire faz uma reflexão sobre sua maneira de encarar a escrita, e sua inter-relação com a leitura, considerada de importância fundamental ao escritor.
A importância da escrita se torna mais evidente quando o escritor toma consciência da conotação e necessidade política de escrever, de expressar seu pensamento, suas idéias e seu sonhar em relação à sociedade e ao mundo. Isto fica claro quando Paulo Freire afirma: “Escrever, para mim, vem sendo tanto um prazer profundamente experimentado quanto o dever irrecusável, uma tarefa política a ser cumprida”.
O processo (metodologia) de leitura-escrita-leitura para Paulo Freire fica evidente quando afirma: “Em minha experiência pessoal, escrever, ler e reler as páginas escritas, como também ler textos, ensaios, capítulos de livros que tratam o mesmo tema sobre que estou escrevendo ou temas afins, é um procedimento habitual. Nunca vivo um tempo de puro escrever, porque para mim o tempo de escrita é tempo de leitura e de releituras. Todo dia, antes de começar a escrever, tenho de reler as vinte ou trinta páginas últimas do texto em que trabalho e, de espaço a espaço, me obrigo à leitura de todo o texto já escrito. Nunca faço uma coisa só. Vivo intensamente a relação indicotomizável escrita-leitura. Ler o que acabo de escrever me possibilita escrever melhor o já escrito e me estimula e anima a escrever o ainda não escrito.”
O escritor para evoluir como tal, precisa ler e reler sua escrita para obter clareza e para conseguir expressar a essência da sua mensagem: “Ler criticamente o que escrevo no momento mesmo em que me acho no processo de escrever me “fala” do acerto ou não do que escrevi, da clareza ou não de que fui capaz. Em última análise, é lendo e relendo o que estou escrevendo que me torno mais apto para escrever melhor. Aprendemos a escrever quando, lendo com rigor o que escrevemos, descobrimos ser capazes de re-escrever o escrito, melhorando-o, ou mantê-lo por nos satisfazer”.
Os sonhos de uma sociedade diferente e a consciência política do autor podem ou são manifestados pela escrita, no processo de interação e apropriação do leitor, conforme Paulo Freire muito compartilha conosco: “Não escrevo somente porque me dá prazer escrever, mas também porque me sinto politicamente comprometido, porque gostaria de convencer outras pessoas, sem a elas mentir, de que o sonho ou os sonhos de que falo, sobre que escrevo e por que luto valem a pena ser tentados.”
O escritor deve se predispor a um comportamento ético e nortear-se pela verdade na qual acredita. Será que os fins justificam os meios? Vejamos a opinião do educador: “A natureza política do ato de escrever, por sua vez, exige compromissos éticos que devo assumir e cumprir”. Ainda, sobre a verdade e o compromisso com os leitores: “Não posso mentir aos leitores e leitoras, ocultando verdades deliberadamente, não posso fazer afirmações sabendo-as inverídicas, não posso dar a impressão de que tenho conhecimento disto ou daquilo sem o ter”.
A coerência entre a práxis e o discurso teórico faz parte desta verdade na qual o educador Paulo Freire acredita e se permeia. Assim, ele aponta que: "O que se espera de quem ensina, falando ou escrevendo, em última análise, testemunhando, é que seja rigorosamente coerente, que não se perca na distância enorme entre o que faz e o que diz".
A questão espaço-tempo entre o vivido e a escrita, muito comum no relato de trabalhos de estágio, mestrado ou doutorado, necessita ser levada em conta no momento de compartilhar a práxis e as verdades decorrentes ou incorrentes nela, pois “Os olhos com que revejo já não são os olhos com que vi”.
Como extrato final a ser apresentado neste texto mostra-se o pensamento do educador sobre a estética e reincide-se sobre a importância da leitura. Assim seja: “Não tenho por que não repetir, nesta carta, que a afirmação segundo a qual a preocupação com o momento estético da linguagem não pode afligir o cientista, mas ao artista, é falsa. Escrever bonito é dever de quem escreve, não importa o quê e sobre o quê. É por isso que me parece fundamentalmente importante, e disto sempre falo para quem trabalha dissertação de mestrado ou tese doutoral que se obrigue, como tarefa a ser rigorosamente cumprida, a leitura de autores de bom gosto. Leitura tão necessária quanto as que tratam diretamente seu tema específico.”
Florianópolis, verão de 2007. |